Esta semana fiz anos.
Não quis presentes e no entanto presenteei-me a mim própria com um dia de férias.
Coisa de que ouvia os outros falar mas que nunca tinha experimentado para mim própria.
Poderia falar desse dia mas não vale a pena.
O que me interessa registar tem a ver com os meus filhos.
Indiferentes ao que pedi ou mesmo sem ter ouvido ou prestado atenção seguiram a tradição.
A Mariana ofereceu-me um postal escolhido por si com a ajuda do avô e escreveu um poema da sua autoria.
O Miguel cantou-me os Parabéns com o engenhoso esquema de duas velas espetadas em dois palitos que por sua vez estavam espetados em dois quadrados de uma tablete de chocolate.
E a Marta, no dia seguinte, trouxe-me um estojo com lápis e algum material mínimo para as minhas aulas de desenho.
A minha actividade mais recente são estas aulas de desenho que não sei se serei capaz de levar adiante. A mão perdeu o jeito e sinto a frustração de olhar para dois desenhos onde a identificação da batata ou da noz que me deram para desenhar é muito difícil (e estou a ser generosa quando utilizo somente o adjectivo difícil).
Tirando este aparte o que importa escrever é que sem saber como nem porquê talvez tenha dado com uma forma de recuperar uma parte do que me liga a esta filha e que muitas vezes dou por mim a achar que está perdido.
Normalmente alheia ao que faço e com o egoísmo característico da idade saiu da sua "bolha" e deu por mim em algo que nela é um talento inato. Quem diria que um simples estojo seria a "chave" que procuro!
Como é que me esqueci que os artistas têm uma linguagem diferente!
A adolescência tem esta característica de lhes alterar a química do cérebro e com isso concluir aquilo a que chamam a personalidade. É natural que assim seja mas o outro lado da moeda faz com que muitas vezes o entendimento que dispensa palavras, aquele que só uma mãe conhece em relação a um filho, pareça que desapareceu e passamos a olhar para uma pessoa que é outra e já não nos pertence e às vezes nem reconhecemos.
A palavra distância ganha um significado novo e a palavra esperança não nos sai da cabeça.
E assim de repente, quem diria que com um estojo um mundo de possibilidades torna a surgir.
Todos os presentes são diferentes e todos são os melhores e especiais, mas sem que alguma vez suspeitasse quem diria que acabaria por receber um presente tão bom Marta.
Sou uma "romântica" eu sei, mas sabe-me tão bem acreditar que pode ser assim.