conversas soltas X

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Mariana: "Sabes mãe, há um menino na minha classe que é rico, mas foi bem educado e não me disse que era rico."
Eu: "Muito bem! Foi muito bem educado! Então porque é que dizes que ele é rico?"
Mariana: "Porque quando íamos na carrinha eu vi que ele tinha um daqueles relógios que também é telemóvel."
Eu: "Mas isso existe querida? Se calhar era a fingir."
Mariana: "Não mãe. Eu sei que não se deve perguntar, mas eu perguntei-lhe se ele era rico, e ele disse-me que sim. Por isso ele é rico de certeza."
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Eu: "Estás com febre Mariana."
Mariana: "Quantos degraus tenho?"
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Mariana: "Mãe, afinal a Troika não é aquela senhora que aparece na televisão (a Catarina Martins do BE) a falar."
Eu: "Pois não, a Troika não é uma pessoa Mariana."
Mariana: "Pois não! No outro dia chamaram-lhe projecto e aí eu achei muito estranho e percebi que não devia ser uma pessoa."

despedida de um "tempo" tão bom

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Registo de viagem, último.
Há uma semana atrás estávamos assim.
Ficam só as imagens, as últimas que guardámos de despedida de um "tempo" tão bom.
Para nossa memória.

sarees

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Registo de viagem, número três ...
Por onde andámos, pelas ruas de Panjim (capital de Goa), por Margão, ou nas diversas localidades que visitámos os sarees são o vestuário mais comum e utilizado pela grande maioria das mulheres.
Para quem gosta de cor como eu era um prazer observá-las e mentalmente fixar as combinações possíveis e que me pareciam resultar de uma forma fantástica. Quanto mais colorido melhor. Preto e branco não faz parte do vestuário feminino indiano.
O saree consiste num pano com cerca de 6 metros de comprimento por 1,3 metros de largura (mais ou menos) enrolado à volta do corpo de uma forma especial resultando basicamente numa saia longa drapeada em que a extremidade mais decorada (e que tem um nome especial que não percebi) é atirada por cima do ombro esquerdo. Em conjunto com este pano usa-se um top justo (que também tem um nome que desisti de decifrar) de algodão ou seda numa cor lisa de manga curta e de decote redondo que deixa a parte superior da barriga e das costas à mostra.
O preço dos sarees é muito variado e pode ir de 600 rupias ou menos (cerca de 8 euros) a alguns milhares de rupias consoante o tipo de tecido utilizado e as aplicações que fizerem na decoração da peça.
Na minha busca por tecidos indianos todas as indicações que obtive conduziram-me a um alfaiate que tinha disponíveis tecidos de algodão e uma imitação sintética de seda, e a algumas lojas que vendiam sarees.
Provavelmente em Mumbai (Bombaim) que não cheguei a visitar teria mais sorte ...
O inglês falado em Goa é muito díficil de entender, não sei se foi um problema de comunicação, mas ao fim de algum tempo acabei por achar que para as indianas que me ajudaram o pano utilizado no saree era o equivalente a "fabrics" ou "raw silk". Acabei por me conformar e comprei quatro panos de saree, os dois primeiros mais baratos pareceram-me óptimos para serem usados como toalhas de mesa. Os dois últimos, um estampado e o outro feito de fio tingido, são de melhor qualidade e ainda não decidi bem o que vou fazer com eles. O estampado é capaz de vir a dar para algum vestido ou calças para o Verão. Quanto ao útimo acho que o vou guardar.
Embora o saree seja de facto o mais comum também se encontram outras peças baseadas em túnicas e calças que são engraçadas. Ao visitar uma das lojas que me indicaram, a Fabindia, fiquei com uma boa referência sobre o tipo de peças possíveis e os nomes que lhes dão.
Confesso que esta história dos sarees vs tecidos baralhou-me e ainda me vai exigir mais alguma investigação.

as casas dos portugueses em Goa

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Registo de viagem, número dois ...
Em 1961 os portugueses que aqui viviam tiveram que deixar Goa.
Os testemunhos de mais de 400 anos de permanência nesta região são mais que muitos.
A influência na comida. Em todos os restaurantes onde passei encontrei quase sempre "caldo verde" e "chourizo", e estes eram os mais evidentes. Com um pouco mais de atenção descobria outros pratos com semelhanças à cozinha portuguesa. Independentemente da influência ou não adorei a cozinha goesa e esta é seguramente uma das coisas que me deixou saudades.
Os nomes. Muitas das pessoas tinham apelidos portugueses: Santos, Silva, Rodrigues, ... Imensas ruas, locais, e edifícios públicos como hospitais, por exemplo, mantém os nomes originais. A grande maioria das igrejas que são mais que muitas têm nomes de santos escritos em português.
É tão estranho encontrar esta familiaridade tão longe de casa. 
Mas aquilo que mais me fascinou foram as casas de habitação construídas pelos portugueses com arquitecturas muito semelhantes e que a mim me pareceram tão encantadoramente românticas.
São casas de um só piso, com telhados altos para proteger do calor, e todas elas com janelas altas sob um grande alpendre que em muitas das casas se estende a toda a volta. A entrada principal tem alguns degraus que levam a um pequeno átrio com bancos de pedra laterais. Como ao final da tarde quando o sol se põe por volta das 6h os mosquitos atacam ferozmente imagino que um dos momentos de utilização destes bancos deve ter sido ao serão.
Algumas continuam rodeadas de jardins protegidos por muros baixos de pedra mais ou menos decorados. As cores são as que nos habituámos a ver em Portugal: azuis, rosa, amarelo, suaves; em contraste às cores fortemente garridas que se vêem na pintura exterior das casas típicas goesas.
Infelizmente não consegui visitar nenhuma delas, com excepção da casa onde viveu Luis Menezes de Bragança (já falecido há muitos anos) localizada em Chandor e que é considerada a maior casa de Goa (últimas três fotografias). A pessoa que toma conta da casa não permitiu que tirássemos fotografias no interior que é absolutamente fantástico e que no seu apogeu antes da família ter sido expoliada pelo Estado deve ter sido uma das casas mais luxuosas e ricas que existiram nessa época. Do recheio ainda "sobrevivem" verdadeiras preciosidades cuidadosamente mantidas pelos últimos membros da família: candelabros de Murano, loiça decorativa antiga chinesa lindíssima, serviços de jantar, e mobílias com peças girissimas como uma "cadeira de namorados" encantadora que estava junto a uma das varandas.
Dois pormenores curiosos nesta casa e que percebi serem característicos em Goa são as janelas que em vez de vidraça tinham "lâminhas" muito finas de concha e os quadros pendurados nas paredes estarem apoiados em suportes com a forma de mãos. No caso das janelas, segundo nos explicaram, o recurso às conchas permitia proteger da entrada do ar quente e mantinha a luminosidade. O efeito é girissimo (penúltima fotografia).
Só consegui fotografar algumas das casas mais próximas da estrada, mas existem imensas, e o guia que nos acompanhou disse-nos que muitas delas estavam actualmente a ser compradas e recuperadas por alemães e ingleses. Espero que sim ... porque é uma pena ver o estado de abandono e degradação em que se encontra a maioria.
Olhando para estas casas sente-se a nostalgia de outros tempos.
Fica-me a imagem de um local que parece ter ficado parado algures lá atrás, abandonado à pressa, que se foi degradando pelo tempo, e dos quais só resta um bocadinho do "brilho" e da beleza de outrora.
Simplesmente, adorei as "casas dos portugueses".

Goa

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Depois de 28h de viagem e com mais 5h30m de diferença horária chegámos a casa e deixámos Goa.
É nestas alturas que me apetece voltar atrás no tempo. No século XIX quando começaram a viajar em férias marcava-se o dia de partida, mas o dia da chegada dependia do tempo que se ia ficando e dos transportes disponíveis que não eram tantos como hoje.
Agora vivemos muito depressa e é dificil habituarmo-nos a estas mudanças tão bruscas.
Enquanto me adapto tento organizar as mil e uma fotografias.
Para já escolhi estas que são algumas dos passeios que fizemos.
Disseram-me que Goa é diferente do "resto" da India, mas para melhor.
Não conheci o "resto" e entre coisas boas e outras menos boas olhando para as imagens que tenho vejo que reflectem principalmente o caos e a pobreza em que a grande maioria dos indianos vive.
Por outro lado, não mostram o sabor das comidas (picante e bem apurado, que é óptima mesmo), a temperatura e o clima fantásticos desta altura do ano, e ainda bem que não se sente o cheiro que deixa uma sensação de náusea e que logo desde o início exige alguma habituação.
A palavra "caos" deve ter sido inventada aqui. E logo a seguir devem ter inventado a palavra "lixo". Há regras mas não são aquelas a que nós estamos habituados: toda a gente buzina por tudo e por nada, não há prioridades, nem sentidos obrigatórios, nem capacetes de protecção, nem limites à quantidade de pessoas que podem ir em cima de uma mota (pai, mãe, bébé, e filho de 3 ou 4 anos, todos agarradinhos e a "abrir"). As vacas (animal sagrado) passeiam por onde querem. Se alguém decidir sentar-se a descansar na berma da estrada a seguir a uma curva não é problema. O lixo larga-se por todo o lado onde se quiser sem apelo nem agravo. Todos os preços são discutíveis. A música se não for indiana é dos anos 80. Levantar dinheiro num ATM pode ser uma aventura. Trocar euros por rupias é uma variável em constante mudança. Sermos olhados com a cobiça de "quanto posso ganhar com este" só deixa de ser assim quando entramos no avião para voltar. Vemos "hippies" ocidentais que já devem ter os seus 60/70 anos e que estão de passagem à procura das memórias da juventude. E vemos os novos "hippies" do século XXI. Ao fim de algum tempo até consigo perceber mais ou menos porque é que esta gente chega aqui e se passa e não sai de cá. O Bollywood alienante está em todas as televisões. Há "cromos" que não sei de onde saíram.
A religião é intensa e variada, cristã, hindu, ou muçulmana. A espiritualidade é muito forte.
A primeira impressão da India é mesmo esta, brutal e assustadora aos nossos olhos de "europeus", um assalto aos sentidos, e sentimos que um bocadinho de nós (pelo menos para alguns) mudou só por chegar até ali e ser confrontado com isto..
Não sei se serei capaz de mostrar a outra parte que me atrai e que me fascina.
O meu lado romântico a tapar o lado racional.
Se alguém me perguntasse se recomendaria como destino a um amigo, não sei responder.
Antes de ir, sabia dizer logo que sim. Agora, confesso que não sei.
No entanto, se tiver oportunidade, tenho a certeza que eu voltarei à India.

preparativos de viagem

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Se tudo correr bem daqui a poucos dias estarei a caminho de um dos sítios que toda a vida quis visitar.
Por pouco tempo é verdade, mas uma semana será suficiente para me permitir conseguir realizar um desejo que desde sempre me lembro de dizer que gostaria um dia de concretizar.
Entre os preparativos habituais gosto sempre de escolher um novo projecto de tricot que me ajude a passar o tempo nas longas horas de avião que me esperam.
Na procura pelo dito folheio livros cá de casa e procuro inspiração pela net.
Estes dois livros já estão cá em casa há uns tempos e são dos melhores que comprei. No primeiro há o modelo da segunda fotografia de que gosto muito e que é um forte candidato.
Também adoro este colete com a lã Cobertor. Este efeito escovado sugerido pela Rosa Pomar é das coisas mais geniais que tenho visto nos últimos tempos. Pode ser que seja desta que retome finalmente o colete que comecei a fazer para a Marta no ano passado.
Entre o Pinterest e o Ravelry há mais projectos que tenho em lista de espera, mas como de costume não consigo decidir-me e como de costume vou andar até às últimas para escolher o eleito que me vai acompanhar até à India.

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