a costureira

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Em linho e em amarelo, bem largo para que sirva e não exponha algum ângulo menos favorável, e para usar no Verão quando estiver um bocadinho mais bronzeada. Ou então em breve na loja para alguém que também aprecie e decida comprar antes de eu o vir a usar. Talvez ofusque um bocadinho mas eu gosto.

Há uns tempos atrás ao ler a autobiografia da Agatha Christie sublinhei esta parte do texto:
"Ao lado da sala ficava a saleta, onde, invariavelmente, estava quase sempre instalada uma "costureira". Agora que penso nisso, as costureiras eram um elemento inevitável em todas as casas. Todas se pareciam um pouco entre si, no sentido em que eram geralmente muito refinadas, estavam em circunstâncias infelizes, eram tratadas com uma cortesia cautelosa pela dona da casa e pela família e sem qualquer cortesia pelos criados, recebiam as suas refeições em bandejas e - tanto quanto me lembro - nunca conseguiam produzir uma peça de roupa que servisse. Era tudo demasiado apertado ou demasiado largo. A resposta a qualquer queixa era sempre:
- Ah, sim, mas Miss James teve uma vida tão infeliz.
Assim, na saleta, Miss James sentava-se e cosia, rodeada de moldes, com uma máquina de costura à frente."

Neste momento esta última frase poderia bem descrever uma parte da sala aqui em casa. E eu até acrescentaria " ... rodeada de moldes, de tecidos, com uma máquina de costura à frente.".
Mas a parte sobre a infelicidade não encaixa. Esta ideia de aprender a costurar surgiu por acaso do gosto em querer saber fazer algo que não seja puramente intelectual ou da gestão.
Quis usar as mãos para produzir algo que não seja uma folha de excell, ou um power point, ou qualquer uma dessas coisas que a Microsoft tem p'raí e que é muito útil para sermos cada vez mais rápidos e super eficientes quando estamos a trabalhar.
Comecei por tricotar, crochetei, e finalmente costurei. E isto de costurar é altamente terapêutico, liberta a mente das preocupações, e normalmente cura-me as dores de cabeça quando as tenho. Quis fazer algo que fosse palpável e que desse prazer olhar, mexer, e dizer que fui eu que fiz.
O pronto-a-vestir dá jeito mas já me aborrece. Está na altura de algum revivalismo para quebrar esta tendência tipo Zara. Usar uma peça de roupa feita em casa tem "estilo" (nota-se muito que estou a vender a minha sardinha?). Falando a sério, usar roupa feita por mim dá-me gozo. E oferecer roupa feita em casa também. É como dar um bocadinho do tempo de quem fez e esse é um bem precioso.
Não vejo "a costureira" como a figura menos feliz da Agatha Christie, para mim até já tem jeito de artista. Sou uma romântica, eu sei ... :)

8 comentários:

  1. Concordo, Paula! Vejo as costureiras como alguém que tem alma de artista! E seria um orgulho usar uma peça de roupa feita por nós. Adorei a túnica! Beijinho

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  2. Gostei muito do seu texto Paula. Também comecei a costurar para distrair a mente, ou melhor para não ocupá-la sempre da mesma forma. Se calhar vai dar ao mesmo. Hoje estou muito feliz de ter dado o 1º passo e de ir a um ou outro workshop para aprender um pouco mais... O que me distingue de si é que adoro idealizar coisas de casa, e não roupa. Talvez esse gosto chegue, não digo que não.. Aprecio muito os seus modelos e o gosto que imprime neles. Bj

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  3. Fazes muito bem em pensar e ser assim. Curiosamente li recentemente a autobiobgrafia da agatha e recordo essa parte to texto :). Bjs

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  4. Está´a vender a sua sardinha mas com toda razão! Parece que hoje, mais do que nunca, o feito à mão, está valorizado. Antes, era óbvio, as roupas não eram tão industrializadas como hoje. Agora, é questão de estilo e bom gosto.
    Linda túnica!
    Bjs

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  5. Eu nunca soube viver sem as minhas costuras! As suas túnicas são cada uma mais bonita que a anterior! Bjo

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  6. Como compreendo esta necessidade de aprender e fazer algo que não seja puramente intelectual. Comecei a bordar e a costurar exactamente por isso. Assemelha-se à meditação. Adorei a túnica. ;)

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  7. Quando se faz uma coisa por opção, porque se quer e porque se gosta acho que isso nos trás felicidade (mesmo que pelo meio haja alguns gritos de desespero, no final vale a pena ;) ). Também me sinto melhor a usar coisas que sei quem fez e que materiais usaram ( mesmo que não sejam feitas por mim) e acabo por lhes atribuir um valor elevado,que efectivamente merecem. Gostei muito de ler este post (:

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  8. Também tenho de comentar este, porque ADOREI. A cor e o corte. Está lindíssimo, Paula, parabéns!*
    Eu não costuro muito (com muita pena minha, mas tenho tantos interesses, que acabo por não me dedicar de corpo e alma a nenhum). No entanto, compreendo bem o efeito terapêutico que referes, porque é exactamente isso que eu sinto em relação à cozinha. Eu cozinho para esvaziar a cabeça, para me perder nos pensamentos, às vezes mesmo para descansar! Creio que a maioria das pessoas que me rodeiam não compreendem bem isso, mas pelo menos ficam felizes com a comidinha.:)

    Boa continuação, costureira-artista!

    Olivia

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